quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Roubaram-me a bicla!



Ao fim de tantos anos anos a carregar a bicla de casa para a rua e da rua para casa, perdi a paciência e achei que não podia ser assim tão mau deixá-la na rua. Durante um mês correu bem, até que numa bela noite de Novembro, alguém decidiu lá ir com uma rebarbadora, cortar o cadeado e levá-la. 


Foi em 2013 que comecei a usar a bicicleta como meio de transporte para o emprego. Comecei por usar a b'fold do outro ciclista cá de casa e, quando achei que o commute em duas rodas era para manter, decidi comprar uma dobrável para mim.



Depois de avaliar muito bem os prós e contras das ofertas existentes, optei por uma dahon curve, à qual dei o nome de Maria Francisca.
Leve e fácil de transportar, era o meu meio de transporte de eleição.


https://pt-pt.facebook.com/costureira.ciclista/photos/a.314420552033428/386329798175836/?type=3&theater



Infelizmente, tive de fazer uma pausa nas deslocações e, durante algum tempo, regressei à Carris. Nessa altura ganhei imenso tempo para ler. Foi de tal forma que até tive tempo de me dedicar a umbloguesobrelivros e acho que nunca li tanto em tão pouco tempo. Em contrapartida, havia dias em que demorava quase uma hora e meia a fazer o percurso do Campo Grande até às Amoreiras.


UMA HORA E MEIA !!!!

Mas eu sou daquelas pessoas que ferve em pouca água e aos poucos fui perdendo a paciência para o autocarro. Ora por causa dos velhos que ganhavam um novo fôlego de vida e energia quando o objetivo era passar à frente nas filas, ora por causa das pessoas que vão o caminho todo a berrar ao telemóvel. Mas apesar de nem um nem outro serem episódios agradáveis, nada bate a maior epidemia dos nossos tempos: o pessoal que vai com a música, os vídeos ou o raio que os parta a tocar nos altifalantes do telemóvel o caminho todo!!! Ninguém merece ir a ouvir kizomba contra à sua vontade às oito da manhã!


Aderi à Jump.
Correu mal.

Aderi à Gira.
Começou por correr bem.
Depois correu mal.

Sim, ainda tinha a dobrável em casa mas a logística diária necessária tirava-me do sério!

Abres a porta de casa e começas a puxar a bicicleta para o patamar.
Gato Mimias foge e começa a descer as escadas.
Vais atrás do gato. Pões o gato dentro de casa.
Começas novamente a puxar a bicicleta para o patamar.
Gato Aníbal foge e começa a subir as escadas.
Sobes as escadas atrás do estupor do gato.
Sempre que estás prestes a apanhá-lo, ele sobe mais um patamar.
Regressas a casa. Vais à despensa buscar as guloseimas e abanas o pacote.
O Gato Aníbal vem a correr com as banhas a abanar.
Lança-te um olhar reprovador ao perceber que foi enganado.
Confirmas que os gatos estão todos dentro de casa.
Sais para o patamar e carregas no botão do elevador.
Descobres que não funciona porque, pela milésima vez, alguém não fechou a porta.
Sobes as escadas até ao andar onde está preso. Fechas a porta.
Vais até ao teu andar e pões a bicicleta no elevador.
Bates com o punho na porta. Bates com o guiador na porta.
Chegas ao rés do chão. Pegas na bike para descer os três degraus da entrada.
Escorregas nos degraus. Bates com a bicla na parede.
Desdobras bicicleta. Segue viagems.
Repetes ao final do dia no sentido inverso.

Ainda assim, indo de bicicleta teria apenas cerca de uns cinco minutos de irritação com o transporte dela de casa até à rua. Não estava sujeita a trânsito, a supressões de carreira, nem a pessoas que não percebem que o transporte público é, como o nome diz: público.



Mas ...


E se eu deixasse de ter esses dez minutos diários de irritação ?

Já não seria a primeira vez que via bicicletas estacionadas na rua...

Tenho um poste tão jeitoso mesmo em frente à porta do prédio!

Tenho um cadeado kryptonite!


E foi super prático. 
Durante um mês inteiro deixei a bicicleta presa ao poste.
Nem sequer me dava ao trabalho de a levar para casa nos dias de folga.
Fui passar uns dias fora e deixei-a lá.
Poupei 310 minutos de irritação.
Aquilo sim, fazia sentido.




No início de Novembro chego lá de manhã e estava o cadeado cortado no chão.
Alguém lá tinha ido com uma rebarbadora durante a noite!
Uma rebarbadora!!!!

Não vou sequer entrar naquela lógica do "estavas a pedi-las", porque eu não pedi coisa nenhuma e é uma anormalidade subverter as coisas. Às tantas a vítima passa a ser o assaltante porque, coitadinho, foi tentado pela visão da bicicleta. Não me lixem.

Conhecem aquele ditado que diz « a ocasião faz o ladrão » ? Bom, a verdade é que houve realmente uma série de fatores que devem ter sido demasiado tentadores. Para além disso, o gajo que lá foi tem certamente um espírito empreendedor: viu uma oportunidade e agarrou-a, empregando os meios e recursos necessários para alcançar o seu objetivo. Não me admirava nada encontrá-lo no próximo websummit a promover uma startup ou a dar uma daquelas formações de inteligência emocional.

Obviamente que fiquei chateada com a situação e fiz o que estava o meu alcance fazer: chamei a PSP, calcorreei a zona e perguntei a algumas pessoas se tinham visto ou ouvido alguma coisa, divulguei uma foto da bicicleta no facebook, tenho andado a ver os sites de vendas diariamente e no outro dia persegui uma rapariga que tinha uma dahon curve até ter a certeza que não era a minha. Neste momento, já não acredito que volte a aparecer.

Mas, como em quase tudo na vida, conseguimos sempre retirar algumas lições, ou pelo menos perceber o que poderíamos ter feito de forma diferente.

E o que é que eu aprendi com isto tudo ?

Não há cadeados invioláveis. 
Sim, um kryptonite pode ser mais difícil de arrombar do que o cadeado da loja do euro mas, com o tempo e ferramentas adequadas, tudo se arromba. O que podem fazer é colocar vários cadeados que ofereçam um bom nível de segurança. Ainda assim, a única coisa que vão fazer é aumentar o tempo que demora a arrombá-los... 

Estacionar sempre em sítios bem iluminados e movimentados.
A parte da iluminação pode servir de dissuasor. Uma rua movimentada também. Em nenhum dos casos podemos no entanto achar que é garantido que a bicicleta estará em segurança. Um tipo que esteja realmente empenhado, provavelmente saberá melhor do que nós quando é que não há movimento na rua. Provavelmente também estará disposto a correr o risco.

Não achar que "alguém" vai ouvir, "alguém" vai fazer ...
A maior parte das pessoas não vai fazer absolutamente nada. Pode estar um tipo com uma rebarbadora a serrar um cadeado mesmo por baixo da janela deles, que é altamente improvável que alguém intervenha. E atenção que isto não sou eu a ser má língua... Há mesmo estudos realizados no campo da psicologia que estudam precisamente este fenómeno.

Não deixar a bicicleta vários dias no mesmo sítio.
Deixá-la vários dias no mesmo sítio, permite a quem a queira levar perceber exatamente as vossas rotinas. 
Sabendo as vossas rotinas, torna-se muito mais fácil planear o furto.

Tomar sempre nota do número do quadro da bicicleta.
Pois... Esta é uma daquelas coisas básicas mas com a qual nunca me preocupei minimamente. 
Não tomei nota do número de quadro.
Não guardei a fatura de compra da bicicleta. 
Conclusão: mesmo que a bicla apareça, não tenho como provar que é minha. 

Se o furto for à segunda, não esquecer que a Feira da Ladra é à terça.
Infelizmente já eram 13h00 quando fiz esta ligação. A bicicleta foi roubada na madrugada de segunda para terça. 
Coincidência? 
Talvez sim. 
Talvez não. 
Mas se me tivesse lembrado logo disso, tinha ido dar um passeio pela Feira da Ladra. 
O único problema é que mesmo que a bicicleta lá estivesse, não tinha como provar que era a minha porque não tinha o número de quadro.

Conclusão: deixar a bicicleta na rua é um risco que só vocês é que podem decidir se estão ou não dispostos a correr, e a verdade é que não há respostas certas ou erradas.

Há quem não tenha outra alternativa, assim como há quem tenha mas prefira deixá-la na rua.

Há aqueles que defendem que se usarem « uma bicicleta velha » (velha de podre e não velha de vintage) é menos provável que a roubem. Mas, mais uma vez, compete a cada um avaliar o tipo de bicicleta que mais se adequa às suas próprias necessidades porque nem sempre o que resulta para uns é o mesmo que resulta para outros.

E vocês, costumam deixar a bicicleta na rua, ou levam-na sempre para casa ?

Boas Pedaladas!
Costureira Ciclista

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