sábado, 7 de dezembro de 2013

Peões e Ciclovias: Amor à Primeira Vista

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Todo o ciclista que circule numa ciclovia já se deparou com este flagelo: os peões que se passeiam aos pares, ocupando toda a largura duma via destinada, imagine-se, às bicicletas!


Geralmente acompanhada de um toque - ou vários - da campainha, o ciclista pode contar com algumas reacções, dependendo do tipo de peão que encontre:


1. O peão aéreo
Geralmente encontrado a deambular pela ciclovia, o peão aéreo tem por hábito posicionar-se entre as duas faixas da ciclovia de forma a poder ziguezaguear mais livremente. Pouco dado à socialização, procura isolar-se do mundo que o rodeia e portanto, é comum encontrá-lo com uns headphones (provavelmente a ouvir Lux Aeterna) e a olhar em redor com um ar sonhador. 

Quando nos deparamos com o peão aéreo não há muito que possamos fazer visto que a comunicação é praticamente impossível, a não ser que lhe atiremos com qualquer coisa. O melhor é tentar prever para que lado vai ziguezaguear e irmos pelo lado oposto. A maioria é no entanto inofensiva, não se apercebendo sequer de que está na ciclovia.



2. O peão Haka Maori
O nome do "peão Haka Maori" deriva da dança realizada pela equipa de rugby neozelandesa All Blacks e que tem como objectivo intimidar os adversários no início do jogo. 
Habitualmente encontrado a circular aos pares ou , grupos, o peão Haka Maori não se limita a passear na ciclovia. Ele faz questão de ocupar toda a sua largura e desviar-se está completamente fora de questão! 
Não tendo nenhum ódio de estimação pelas bicicletas, o peão Haka Maori gosta de fazer placagens, ponto final. Dou-vos um exemplo: vão a passar num passeio, nas compras, ou num centro comercial e vem alguém na vossa direcção. À medida que se vão aproximando, percebem que estão em rota de colisão e que essa pessoa não se está a desviar. Perante a iminência da colisão, vocês acabam por rodar ligeiramente o tronco ou dar um passo ao lado e ficam a pensar: « então e se eu não me tivesse desviado ? » Pois é meus caros... estiveram a centímetros de um peão Haka Maori.

O que fazer ? Muito simples. 

1.Travar e estabelecer contacto visual
2.Sair da bicicleta lentamente para enfatizar (atenção!manter sempre o contacto visual)
3. Colocar o descanso/atirar bicicleta para o chão. Depende no nível de dramatismo que pretendem
4. Fazer o Haka 



3. O peão Loch Ness
Ninguém sabe se é real ou mito. Estudos recentes permitiram concluir que os Antigos acreditavam que existiam peões que circulavam fora da ciclovia e que, se porventura circulassem numa quando se cruzassem com algum ciclista, apressavam-se a pedir desculpa e a voltar ao passeio. Numa visita à secção paranormal da Torre do Tombo, conseguimos encontrar um excerto de uma entrevista a um ciclista que esteve perante uma destas criaturas:

Anónimo: Era um dia como os outros. Lembro-me que estava frio. Peguei na bicicleta e pus-me do trabalho. Acho que tinha havido um acidente porque estava imenso trânsito. Mas, ao fim de alguns anos a pedalar em Lisboa, não era nada de que não estivesse à espera. Quando cheguei à Avenida do Brasil, lembro-me que o trânsito estava uma confusão! Carros, motas, autocarros... nem sequer conseguia passar com a bicicleta.

Repórter: Então e o que é que fez nessa altura ? Ficou parado no trânsito ?

Anónimo: Eu fui para o passeio. Era a única maneira, compreende ? Não havia como fugir ao trânsito. Eram tantos carros...

Repórter: E levava a bicicleta pela mão ou ia a pedalar no passeio ?

Anónimo: Ia a pedalar .

Repórter: E pode dizer-nos o que aconteceu quando ia a pedalar no passeio ?

Anónimo: Havia um carro estacionado em cima do passeio. A frente do carro quase tocava a parede do prédio e era muito estreito para passar... Eu estava a andar quando vi que vinha um peão na minha direcção. E comecei a travar ...

Repórter: Porquê ?

Anónimo: Porque era impossível passarmos os dois.

Repórter: E depois, o que aconteceu ?

Anónimo: O peão parou e cedeu-me passagem. "Passe, Passe" foram as palavras dele. Nunca me esquecerei daquele momento. Tentei procurá-lo novamente, mas nunca encontrei. A minha mulher pensa que estou louco. Os outros ciclistas gozam comigo. Nunca consegui que acreditassem em mim.

A verdade é que não há evidências científicas da existência do Peão Loch Ness e muitos são os ciclistas que passam a vida à procura de provas. Mito ou realidade ? Ninguém sabe. Mas, a verdade é que por vezes surgem fotografias de avistamentos, como esta




4. O peão Morte-Aos-Ciclistas

Neste local, é habitual o avistamento do 
peão Morte-ao-Ciclista a partir das 18h00
Muito semelhante ao peão Haka Maori, o Morte-Aos-Ciclistas distingue-se, essencialmente, pelo seu nível de agressividade e atitude arrogante. Frequentemente avistado na Ciclovia do Campo Grande por volta das 18:00, acredita que a cidade pertence aos carros, peões e ponto final! Para ele, uma bicicleta a circular na cidade constitui uma afronta e, ainda mais, quando se começam a ver surgir infraestruturas dirigidas aos seus utilizadores, como estacionamentos ou ciclovias (inadmissível!). Por isso manifesta o seu desagrado circulando sempre na ciclovia, independentemente da largura do passeio e, quando confrontado com o plim plim de algum ciclista é habitual responder com um  « ERA O QUE MAIS FALTAVA! », por vezes acompanhado de um longo monólogo no qual manifesta a sua revolta, frisando que vivemos em tempos de crise e que, com tantas coisas importantíssimas em que gastar o dinheiro, o Governo (que juntamente com os ciclistas têm culpa de tudo) não se devia pôr a gastar dinheiro em ciclovias. Principalmente porque, coitados dos peões, qualquer dia não têm onde andar.

Como enfrentá-los? Ignorem. Não se preocupem porque o peão Morte-Aos-Ciclistas vai continuar a falar sozinho pela ciclovia fora até se cruzar com outro peão da mesma tribo, e é frequente vê-los a caminhar lado a lado, em direcção ao pôr do sol, a discutirem sobre " os malditos ciclistas". Dizem que a técnica usada para enfrentar os peões Haka Maori também costuma ser eficaz.


5. O peão Fitness
Tal como o peão Haka Maori, também este se desloca em grupos. No entanto, neste caso específico, o número mínimo de elementos costuma rondar os 4.
Muito frequentemente avistado depois da hora do almoço, o peão fitness é, maioritariamente do sexo feminino e acredita com toda a força do seu ser que as ciclovias são, na verdade, passadeiras gigantescas para fazer "caminhadas". À semelhança de outros grupos de peões, também estes preferem circular de forma a ocupar toda a largura da via, para poderem conversar à vontade enquanto desfrutam do seu momento de fitness diário, na companhia das amigas e de um sundae com extra cobertura de caramelo.

Embora não constituam ameaça directa ao ciclista, é preciso alguma precaução. 


6. O peão smartphone
O Instituto de Estatística de Peões na Ciclovia (IEPC) registou um aumento exponencial do número de peões smartphone. Tal como acontece com o peão aéreo, também este tem por hábito ziguezaguear pela ciclovia. Constituem um perigo real para os ciclistas que, infelizmente, não conseguem prever quando é que ele vai fazer uma paragem brusca para tirar uma fotografia a si mesmo (em linguagem peão smartphone: tirar um selfie) ou à sandes que está a comer, para depois partilhar nas redes sociais.
Apesar de tudo, o peão smartphone é inofensivo quando confrontado com uma bicicleta, chegando mesmo a assustar-se quando o ciclista passa por ele. 
Aconselha-se no entanto aos ciclistas que circularem nas ciclovias entre 25 de Dezembro e 01 de Janeiro, MUITO cuidado e precaução, visto que o IEPC prevê que o número de peões smartphone aumente consideravelmente depois do Natal.

Boas pedaladas!

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